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Nota de Repúdio

Diante da inquietação da categoria e solicitação de posicionamento da Psicologia pernambucana, este Conselho vem a público manifestar seu repúdio.

“O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem.”
(no programa "Participação Popular", TV Câmara, 2010)
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”
(Em entrevista sobre homossexualidade na revista Playboy)
“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.”
(Após caçoar de FHC sobre este segurar uma bandeira com as cores do arco-íris)

O Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco – 2ª Região (CRP-02) repudia veementemente as falas acima, amplamente divulgadas nas redes sociais em que um candidato à presidência da República do Brasil, em debate sobre a "Lei da Palmada"- projeto que proíbe punição corporal às crianças e aponta para o ultrapassado e conservador conceito de educação (reduzindo à mudança de comportamento e subserviência à figura de autoridade) e da perspectiva da orientação sexual da criança, fazendo referência equivocada à heterossexualidade como resultado de imposição e a homossexualidade como decorrente de aprendizado ou influência.

A Ciência da Psicologia, baseada em inúmeras pesquisas sobre as temáticas de gênero e sexualidade, já inferiu que questões de gênero e orientação sexual não são comportamentais, mas estruturais, ou seja, não se configuram entre aqueles aspectos que podem ser ensinados, reorientados e/ou reconduzidos. Tampouco podem ser encarados como anormais, errados, pervertidos e/ou patologizados.

A Psicologia defende e respeita a Constituição, a Declaração dos Direitos Humanos e seus procedimentos científicos, não se baseia em técnicas coercitivas e violentas como promotoras de mudança de comportamento, nem na patologização de qualquer modelo contrário ao hegemônico, construído a partir da lógica do mercado ou de valores morais aniquiladores de subjetividades e da vida. Ao contrário, reafirma a importância das diferenças entre pessoas, grupos e povos, propondo o respeito e o diálogo como intervenções bem-sucedidas na educação.

Baseado em nossas pesquisas, o desrespeito às singularidades e sugestão à violência física como alternativa para a conversão e extinção das diferenças apresenta-se não somente ultrapassado, mas carente de conhecimento científico e ineficaz, cabendo urgentemente às lideranças desse país, conscientes de seu papel, recorrer à ciência para posicionamentos públicos e não a seus próprios moralismos, sob pena de não contribuir para a evolução científica nessa nação.

Tal postura causa sofrimento, adoecimento, reforça o preconceito e a discriminação sofridos histórica e socialmente pela comunidade LGBTQI+. Além do mais, sendo o Brasil identificado como o país mais violento contra esta população, a carência de conhecimento científico e excesso de moralismo desse discurso passa a ser duplamente perigoso, pois abre espaço para mentes adoecidas sentirem-se autorizadas a atuar seus conflitos projetados nesse grupo, aumentando ainda mais o crime e a violência no país.